sexta-feira, 3 de julho de 2009

rapaz comum

Talvez tenha faltado ao Jackson razão (“é tudo uma questão de pensar”). Entender o que o rap dos Racionais MC’s ensina: o quanto o pop é manipulação e esvaziamento. Não o pop, mais esse nosso tempo, o reinado do consumo, em que afeto é vergonha, pobreza é feio, o bonito é ter e consumir.
Mano Brown, malicioso e realista, está aqui, com os pés no chão. Sua mente vaga, ele mostra e assume sua precariedade, sua ambigüidade. Ele é gente. Sua letra é sua arma e ele visa não virá-la contra ele. Mas olhe, pelo que já ouvi, ele é um moço perplexo. Idealista, crente, meio pai, meio pastor ele é, fazer o que? Mas ele consegue divertir com conteúdo, seus companheiros sempre nessa com ele: pensando e se divertindo e aos “irmãos”. Lembrei dele: Viver, viver: essa é a meta!
O que me prova que ele não foi consumido: ele está vivo! Ele quer viver!
No contexto dele, nas letras de seu grupo, tudo que um negro pode fazer para degradar ainda mais sua raça é condenável. No lugar de ofertar-se como objeto do racismo, eles dizem que é melhor optar por honrar-se. A cor, a história, o lugar de origem.
É isso: tudo o que contradiz o imaginário pós moderno em que histórias e afetos precisam ser reduzidos. Porque muito pior que a pós modernidade é precisar bancar a imagem de pós moderno. Os outros, talvez os mais novos, devem achar que são 'pós'. Então, delicadeza, gentileza, amizade, companheirismo, tudo isso é muito 'oldfashion'.
Claro, sei que os rappers constituem grupos, querem militantes e militam. Mas bancam sua opinião com propriedade e implicação. A história de dificuldades e exclusão não impede Mano Brown de ter orgulho de si. Ele pode consumir, ele pode, sem perceber se dar a consumir. Mas não nos deixa roê-lo.

Um comentário:

AS RUSSAS disse...

russas,
foi barra pra ter coragem.
como sou destrambelhada, acho que escrevi demais.
Prometo encurtar e reler o texto da próxima.
Bem, já temos uma super poeta, vou me deixar descomprometidamente.
Beijo em cada uma das minhas amigas, russas ou não