segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As russas, a pixação, os piores de belô

Com certeza, a cidade se ressente do ato do pixo. Ato por vezes ilegível, lança quem o faz ao risco e, pelo menos a princípio e pela lei, à consequência de uma contravenção. Não compactuamos e nem fazemos apologia ao pixo. No entanto, expressamos a indignação a respeito do fato de que pixadores estão no presídio, presos por formação de quadrilha, na surdina e com argumentos ditatoriais.
Testemunhamos, a cada dia, um certo tom autoritário, extremamente proibitivo e em prol do desenvolvimento, da expansão imobiliária em Belo Horizonte. A tentativa de venda, de lucro, de privatização leva embora praças, locais para escolas e hospitais. Isso também é desrespeitoso com o patrimônio material e democrático da cidade.
A pixação se refere a questões sociais difíceis, mas ousadas, nutridas da marginalidade à qual é jogada, num ciclo sem fim e pouco profícuo para todos. O pixo nos aponta as mazelas da educação no país, o apelo ao mito da visibilidade como sucesso social. Curiosamente, por vezes, o pixo não dá a ver sua mensagem, mas imprime seu ato, seu texto possível, sua marca territorial. Bem, é algo, inclusive, bem atual na cidade a questão do direito à moradia. O pixo provoca a cidade, debate a questão da propriedade e do limite.
Algo a ser pensado, equacionado entre limite, punição (não sabemos qual seria a melhor maneira) e educação e prevenção. O Ceresp parece um tiro de canhão sobre moscas. É muito. Reforça a desigualdade de forma arbitrária e contrária aos Direitos Humanos.
O mais importante: discutir, refletir e tentar contribuir para as soluções que possam vir.
Um detalhe curioso: em BH, por vezes sentimos claramente que somos todos os piores de belô. Afinal, todos somos estruturados em torno de algo que será sempre fora-da-lei. E aqui, muitas vezes, estamos encarcerados nas praças, espremidos numa cidade em que a cultura precisa gritar para sobreviver.
Talvez seja possível construir alternativas aos presídios, assim como foi possível construir alternativas aos manicômios.